Treinamento. Sempre

"Eu não preciso de media training. Sei como falar com a imprensa." Essa é uma das frases mais ouvidas quando um consultor de imagem discute seu plano estratégico com o cliente. Quase tão batida (e perigosa) quanto a outra: "Pode ficar tranquilo. O repórter é meu amigo". Bem, vamos deixar algumas coisas claras: o repórter não é seu amigo, mesmo que vocês se conheçam desde o jardim de infância. Ao apurar uma matéria, ele será sempre um jornalista e sua postura será naturalmente crítica. É por isso que, em algum momento, todos precisam de um media training.
Mesmo que você tenha anos de experiência em divulgar os resultados mensais de sua empresa, isso não o prepara para enfrentar os repórteres que estão na sua frente perguntando sobre o acidente que vitimou três operários. Ou sobre a gravação constrangedora de seu gerente conversando com o fiscal da prefeitura. Novos desafios impõem preparação específica.
O bom media training não é uma sessão de ensino de truques. Nem de conselhos sobre como arrumar a gravata ou olhar para a câmera. Ele é muito mais profundo. Começa em uma etapa anterior: a identificação dos melhores porta-vozes. É preciso identificar as pessoas certas e depois ajudá-las a crescer.
A primeira característica de um bom porta-voz é sua legitimidade. Ele tem de ocupar um cargo que o autorize a falar sobre determinados assuntos e ter conhecimento técnico para discorrer sobre eles. Deve saber mais que o jornalista que lhe faz as perguntas. Só depois vem os fatores de imagem, igualmente importantes. Como ele fala? Sua imagem desperta empatia? Ele é firme em suas assertivas? Consegue lidar com perguntas inesperadas? Mantém a calma mesmo quando o repórter é agressivo?
É mais fácil qualificar um porta-voz legítimo do que tentar dar legitimidade a alguém escolhido porque fala bem.
Por esses motivos, é importante contar com mais de um porta-voz. Isso permite destacar o especialista em cada área. Garante que você terá sempre uma reserva. E que poderá revezar suas faces públicas para evitar desgaste.
O mais importante no treinamento não são as técnicas e sim a substância. Alguns pontos básicos:
Você não está na entrevista apenas para responder perguntas e sim para passar suas mensagens. O repórter tentará conduzir a entrevista para seu ângulo de interesse. Essa é a função dele. A sua é garantir que a mensagem desejada seja transmitida corretamente.
Seja positivo e firme. Mas realista. Não faça promessas que não poderá cumprir.
Se não souber responder algo, não chute. É aceitável reconhecer que não tem a resposta e prometer fornecê-la no prazo possível. Mas não dá para falar do que não sabe.
Na maioria das situações, você não estará falando por si mesmo, mas por sua organização. Deixe seus sentimentos de lado e seja objetivo.
Se tiver de reconhecer erros, faça-o. Mas faça apontando soluções e dando um encaminhamento positivo ao caso.
Se tiver de repetir várias vezes a sua mensagem, tudo bem. A alternativa, de que ela se perca, é muito pior.
Os treinamentos devem ser permanentes. Numa situação ideal, eles são customizados para responder a riscos apontados numa auditoria de imagem prévia. Se isso não for possível, mesmo sessões rápidas com foco e mensagens são uma grande ajuda. Nunca se coloque diante das câmeras despreparado. Você pode ter só uma chance.