Estamos no mesmo lado. Ou deveríamos estar...

Se você é um advogado especializado em casos de notoriedade, já deve ter tido vontade de estrangular algumas vezes os assessores de imprensa de seus clientes. Pode ter certeza que os assessores também já sonharam muitas vezes em apertar seu pescoço... A disputa entre advogados e equipes de imagem é uma das mais comuns no gerenciamento de crises. E uma das mais perigosas. Se não for bem trabalhada, essa relação pode ser tão perigosa para o cliente quanto os adversários externos.
O estranhamento nos olhares de advogados e consultores de imagem muitas vezes se explica por uma diferença de objetivos. O advogado quer o cliente absolvido ao fim do processo. Nessa ótica, guarda suas armas para o momento em que forem mais convenientes do ponto de vista legal. O assessor de imprensa precisa ver seu cliente passar pelo julgamento da opinião pública. Ele acontece no pico da crise e lida tanto com percepção e emoções quanto com provas e documentos.
O ponto em comum é o interesse do cliente. Ele precisa vencer nas duas arenas: a jurídica e a da opinião pública. Quer vencer na justiça, mas também precisa manter seus clientes, confortar sua família e amigos. A luta é de curto, médio e longo prazo e se dá em diferentes campos de batalha. Não será vencida a não ser que todos os envolvidos trabalhem em conjunto.
Há alguns ingredientes fundamentais para que isso aconteça: o primeiro é o velho bom-senso. Não faz sentido acelerar a divulgação de fatos ou documentos que possam comprometer a estratégia judicial. Mas também não adianta guardá-los se a imagem do cliente estiver sendo destruída. O momento certo para usar cada arma precisa ser decidido em uma estratégia integrada.
O segundo elemento é a honestidade: internamente, cada segmento da equipe precisa explicar sua visão de cenário e estratégia. Mais importante ainda, precisa estar disposto a ouvir o que os outros tem a dizer.
Um dos pontos de conflito mais comuns é a necessidade ou não do cliente dar entrevistas. A imprensa pressiona, os advogados costumam resistir. Defendem, com bons argumentos, que ninguém deve falar antes de saber tudo o que existe contra eles. Numa crise com o envolvimento da imprensa isso é quase impossível, porque novos fatos costumam surgir ao longo da cobertura. Mais uma vez, não há uma fórmula definitiva.
O melhor caminho é tentar antecipar o que ainda pode surgir nas matérias jornalísticas e calibrar as respostas, para que elas não gerem novos desdobramentos negativos. Em muitos casos, a presença do cliente, defendendo a si mesmo com serenidade e força, pode ser fundamental para superar uma crise.
Deixar as decisões sobre imagem concentradas nas mãos dos advogados é quase tão perigoso quanto pensar que o assessor de imprensa possa atuar no tribunal. Melhor entregar cada área aos respectivos especialistas e garantir que eles conversem entre si.
Numa situação de crise, não pode haver times jurídicos e de imagem. Eles precisam estar juntos, trocando ideias, avaliações, projetando riscos e desenhando estratégias. Se isso acontecer, o cliente larga em vantagem para superar a crise. Qualquer que seja ela.